20/12/2019

Estudo analisa impacto dos canudos ao meio ambiente

ACV compara seis diferentes tipos de canudos a partir de seus perfis ambientais
Os canudos de plástico existem desde a década de 1960 e ganharam popularidade rapidamente. Mas, de uns anos para cá, sua utilidade vem sendo contestada e combatida por inúmeras instituições. O descarte incorreto desses materiais acabou por transformar os simpáticos tubinhos coloridos em um dos maiores vilões do meio ambiente, o que deu margem à sua proibição em diversas cidades do mundo, como em São Paulo, que teve uma lei sancionada pelo prefeito Bruno Covas em junho deste ano, proibindo o fornecimento do canudo plástico nos estabelecimentos comerciais.
Em meio à relevância do assunto e toda a repercussão do tema na sociedade, a Braskem realizou uma Avaliação de Ciclo de Vida dos diversos tipos de canudos, e tem como objetivo avaliar os potenciais impactos ambientais ao longo do ciclo de vida desses produtos em toda a cadeia de valor. A metodologia da ACV é amparada por normas internacionais da série ISO 14.040 e ISO 14.044, e os resultados desse estudo foram apresentados pelo responsável por Sustentabilidade na Cadeia de Clientes da Braskem, Yuki Kabe, em um webinar sobre o tema.

O DESAFIO DO DESCARTE CORRETO

Na opinião de Yuki, o tema está envolvido por um grande conteúdo emocional, e não deve ser discutido apenas sobre esse aspecto. Segundo o especialista, a ideia principal dos dados apresentados não tem como motivação a defesa do uso do produto, e sim a análise com base científica dos impactos causados na utilização dos principais canudos disponíveis para consumo geral.

"As restrições ao plástico e a imagem ruim vêm muito do preconceito e da percepção equivocada. Por isso, vimos a necessidade de trazer fatos científicos para qualificar essa discussão. Nada melhor do que trazer uma metodologia padronizada em normas internacionais para fazer isso", afirma o especialista.

A avaliação compara seis diferentes produtos a partir de seus perfis ambientais, considerando os materiais predominantes e auxiliares, além dos ciclos de reutilização, manutenção e fim de vida. No caso das três soluções recicláveis (plástico, papel e juta), os ciclos foram classificados como indefinidos, e o fim de vida levou em conta a porcentagem de degradação de cada um. Já em relação aos três reutilizáveis (bambu, aço e vidro), os números de ciclos de uso foram definidos caso a caso, e os gastos com lavagem e conservação dos kits disponibilizados também foram contabilizados.

A base de comparação partiu da mesma funcionalidade e período (uso para beber um líquido genérico por sucção no Brasil, em 2018), com a coleta de dados primários e informações de mercado, além do que foi extraído de bancos de dados da Ecoinvent e de literatura sobre o tema. O tempo limite considerado no estudo vai do berço ao túmulo, ou seja, desde a extração dos recursos naturais até o retorno dos resíduos à natureza. Outros aspectos importantes comparam a massa de cada um dos produtos, o consumo de materiais e a quantidade ou escassez de água em suas fabricações.
O especialista explica que a avaliação é ampla e abrange todas as etapas possíveis de categorias de impacto ambiental, contemplando ar, água e solo, além do consumo de recursos naturais, mudanças climáticas, toxicidade, efeitos sobre a saúde humana e a saúde de ecossistemas: "A avaliação é feita com olhar para o desempenho ambiental de um produto, que vai desde o momento em que os recursos naturais necessários para sua produção são extraídos da natureza, passando pelas etapas de manufatura e de uso até o fim de vida, com eventual descarte, reciclagem ou reúso desse produto", afirma.

COMPARATIVOS DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Para chegar aos índices de impacto de cada produto, nove categorias foram analisadas, e os números registrados foram divididos pelo impacto médio de um ser humano durante um ano, para se chegar aos dados de normalização dos produtos, segundo Yuki. De acordo com os índices, o canudo de plástico apresenta menor potencial de impacto. O estudo também realizou análises de sensibilidade para mostrar as contribuições em cada um dos ciclos de vida dos canudos.

MELHOR E PIOR CENÁRIOS

Para finalizar o estudo, dois cenários foram montados para as comparações, com as melhores condições de uso dos reutilizáveis (50 mL de água por lavagem sem detergente, com 1.000 ciclos de uso e 100% de reciclados) e a pior condição possível entre os descartáveis (taxa de reciclagem zero, com 100% dos canudos destinados a aterros). Mesmo nesse cenário desfavorável, o plástico mostra índices de impacto semelhantes ao do aço, material com melhor desempenho entre os reutilizáveis.

Yuki explica: "Há, sim, como um reutilizável ser uma alternativa sustentável, mas depende de um comportamento extremamente consciente dos consumidores. Já no caso dos canudos de plástico, a medida a ser tomada é fazer com que sejam todos recolhidos e dada a destinação correta, garantindo que não se percam em rios, lagos e oceanos".

CONCLUSÃO

De acordo com os dados da ACV, as soluções de plástico tendem a ter melhor desempenho ambiental se comparadas às outras alternativas disponíveis. As opções poliméricas de uso único, segundo Yuki, possuem impacto quase constante e previsível. Já as reutilizáveis, por outro lado, dependem muito do comportamento das pessoas.

Mas o que fazer com a percepção contrária da sociedade de consumo em relação aos canudos plásticos? Para o especialista, as soluções poliméricas tendem a ser a melhor opção, desde que seja feito um gerenciamento adequado de fim de vida. No caso das políticas públicas, Yuki acredita que o incentivo ao não uso do canudo de forma geral seria uma ideia muito mais positiva.

Para ele, restringir apenas o uso de canudo plástico sem inibir ou desestimular o uso do canudo em geral não resolve a questão, porque acaba criando um mecanismo de transferência de impactos ambientais de uma categoria para as outras, o que acaba aumentando o impacto ambiental total: "Nas situações em que o canudo plástico for extremamente necessário, ele é a melhor opção. É fundamental também fortalecer a cadeia de coleta e a reciclagem, para sustentar soluções de uso único. Além disso, os focos das políticas públicas deveriam ser desestimular a demanda e gerenciar melhor os rejeitos do que meramente proibir materiais, fato que acontece em muitos lugares do mundo".

Veja abaixo o webinar sobre a Avaliação do Ciclo de Vida dos Canudos: