Filipe Oliveira, da ECO Local Brasil
Há 18 anos, a ONG ECO Local Brasil é responsável por coletar lixo das praias do s litora is do sul e sudeste do Brasil. Sua missão, no início, era retirar o lixo das areias das praias e ilhas desertas. Há quatro anos, a instituição percebeu que poderia atuar de forma mais direta para reposicionar o plástico na cadeia circular do material e resolveu se tornar também uma empresa de soluções ambientais, não só coletando o s resíduos , mas transformando -os em produtos. A partir da compactação do plástico triturado, é possível criar objetos de consumo final de qualquer espécie: desde tijolos e telhas, até quilhas de prancha e brinquedos.
Líder da Eco Local Brasil, Filipe Oliveira fundou a ONG em 2002, quando ainda era estudante universitário de Geografia. Como também surfava, estava sempre na praia e se incomodou com o s materiais descartado s de forma incorreta , que ia m parar na areia. Foi o necessário para que o empreendedor social colocasse as mãos na massa, convidando alguns amigos para recolher os dejetos. Assim foi fundada a instituição. Em 2018, a ECO Local Brasil se torna também uma cooperativa beneficiadora que, desde então, já transformou mais de 70 toneladas de plástico em ações que chegaram até Fernando de Noronha. Da sede da empresa, em Santa Catarina, Filipe conta como foi a virada da chave para a mudança na ação do projeto e como é o processo da empresa para transformar lixo em matéria-prima sustentável.
Oliveira mostra brinquedo produzido com matéria-prima oriunda de plástico retirado de praias. Outro produto da ECO Local Brasil, as quilhas são feitas a partir de matéria-prima reciclada.
PICPlast - De onde surgiu a ideia de beneficiar o plástico?
Filipe Oliveira - Não aconteceu tudo ao mesmo tempo. A Eco Local Brasil começou suas atividades há 18 anos, em 2002, como ONG. Desde então, estamos limpando praias, a gente tem um histórico muito grande. Durante esse tempo, nós entendemos que seria muito importante também sermos os responsáveis pelo transporte daquilo que a gente coletava e por dar o destino final, já que as cooperativas muitas vezes não conseguem aproveitar tudo que chega para elas. Então, a partir de 2018, começamos a buscar alternativas, investir e então recriamos o estatuto da ON G para também sermos uma gerenciadora de resíduos provenientes de ação ambiental. O que nós entendemos é que não basta ficar apontando para o problema. É preciso também chegar com a solução. Então, a gente encabeçou essa responsabilidade.
P - Qual é o diferencial da ECO Local Brasil?
F . O . - Acredito que nós somos hoje a única operação da América Latina que transforma o plástico dos oceanos e de ativações ambientais dirigidas em matéria-prima. Nossa ONG tem como uma das principais atividades gerenciar o resíduo que retira das praias . E nós aproveitamos todos os tipos de plástico, por meio da compactação e do uso de resinas. Um exemplo são as lonas de banners que gerenciamos de eventos esportivos . Em tese, eles não reciclam, porque são dois tipos de plástico o PVC flexível com a trama do poliéster num único produto e não existe o processo de separação . Nós trituramos essa lona, preparamos ela como um selante e compactamos. Assim , conseguimos transformá-la em qualquer coisa. O campeonato mundial de surf realizado em Saquarema no Rio de Janeiro em 2019, último evento presencial , as lonas foram transformadas em 60 lixeiras para serem instaladas na P raia D e I tauná por este processo.
P . - Como ocorre o processo de transformação do plástico ?
F . O . - Há quatro anos nós trabalhamos com indústrias parceiras que nos cedem o maquinário para que possamos transformar o rejeito, aquele lixo que, em um primeiro momento, não se recicla, como espuma, pedaço de prancha, etc. A Carbo Brasil, por exemplo, é uma parceira nossa que trabalha com resíduos pós-industrial. Nesse caso, nós adequamos o procedimento para processar o material que eu retiro das praias. Outra parceira nossa é a SJ Plásticos, uma recuperadora de termoplástico com foco em PVC, mas que também nos auxilia no processo da reciclagem. Nós separamos o material por categoria e granulamos, além de elaborar um datasheet (ficha técnica) do material reciclado com informações das propriedades para os transformadores.
P . - Qual o trabalho da ONG hoje?
F . O . - Nós realizamos ações lúdicas e limpeza de praia, com mutirões ambientais e educação ambiental nas escola s. Em parceria com vinte e quatro projetos ambientais atuantes no litoral Sul e no Sudeste, todo mês desenvolvemos ações em conjunto. Basicamente a nossa atividade é essa, realizar ações. A gente encabeça a responsabilidade de retirar os lixos das praias e ilhas desertas. Além disso, vamos a escolas para fazer um trabalho de conscientização, voluntariamente atendendo de três a cinco mil alunos por ano, com o apoio de Secretarias de Educação, fazendo gincanas ecológicas e atividades externas. Meu propósito é preservar a vida marinha. E com o material coletado, nós o transformamos em produto. Recentemente, nós fabricamos cinco mil brinquedos com esse plástico reciclado e distribuímos no país todo.
O entrevistado em ação educacional em uma escola pública
P . - Qual o impacto da ECO Local Brasil como um todo na comunidade?
F . O . - Todos esses projetos que eu falei para você, que são parceiros nossos, hoje, de uma maneira ou de outra, fazem renda com as ações ambientais. Eles conseguem ter receita enviando o lixo coletado para nós, transformamos o resíduo em banco de praça, e devolvemos para que eles possam vender esse objeto. A gente consegue dar opções e consultorias para que projetos sociais ou associações possam reverter a coleta de lixo em renda. É um " trash cash ", digamos assim. Em nível nacional, a Eco Local Brasil desenvolveu em 2020 o projeto Pé na Estrada, Praia Limpa. Por ele, nós, apoiados financeiramente por uma empresa, pegamos nossa matéria-prima, fomos até uma indústria de brinquedos e pagamos a injeção de cinco mil brinquedos. Depois distribuímos para todo o Brasil, de Fernando de Noronha ao litoral sul de Santa Catarina, para projetos sociais. Outro projeto nosso que está no ar, funcionando uma vez por mês, é o Projeto Quilhas. Nós usamos redes de pesca resgatadas para transformar em quilhas e fazemos a doação desses produtos para projetos de surf. Nós já atendemos trinta projetos, mas tem mais de 150 na lista. Então, a gente também fomenta o esporte com o nosso trabalho ambiental e de transformação do plástico .